Capítulo 5

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O Sonnenblume se despediu de mim batendo em minhas costas, antes de sumir pelos corredores de metal, me deixando encarar sozinho o que podia ser chamado de primeira “aula”.

“Com medo?”

Que que tu acha? Ontem sequer me viram no refeitório por causa da briga e por causa de Luís... Agora não vou ter essa facilidade. Além disso, é a aula pra aprender a controlar a transformação. Aposto que Davi vai estar lá dentro.

A fera ficou em silêncio, provavelmente lembrando de como o Kupfer nos tratara no dia anterior.

Sinceramente, a ideia de reencontrá-lo não me agradava muito.

Resmungando algo ininteligível, sentindo o estomago roncar porque o professor que me convocara para estar lá às seis da manhã proibira que tomássemos café, encostei a palma da minha mão na interface da porta. Uma luz piscou de azul para verde junto com um aviso para afastar a mão. Assim que o fiz, a porta reflexiva fez um zumbido conforme se afastava para a lateral.

Do outro lado, havia uma sala ampla, com o teto alto, quase vazia, na qual eu pisei devagar, olhando para todos os lados. Ao invés do carpete cinza-chumbo, o chão era de alumínio, com alguma espécie de antiderrapante cobrindo-o em diversos locais. As paredes eram claras, e os únicos móveis, se é que dá pra chamar assim, eram blocos de concreto de diversas alturas e tamanhos; olhei ao redor, encontrando os outros oito Lobisomens com coleiras, Davi e Larissa entre eles, conversando; ele não parecia tão afetado por ela quanto os outros rapazes...

“Lá na enfermaria ela falou como se o conhecesse... Como são os próximos Alfas de seus clãs, é bem capaz...”

Pensando bem, até que a fera tinha razão nisso.

Com um suspiro, comecei a andar na direção do grupo, me preparando psicologicamente para o que quer que fosse acontecer; faltando alguns passos, a parede deslizou num canto e um homem entrou milésimos de segundos depois que o cheiro de couro e tinta.

Ele tinha olhos dourado escuro com gotas de azul, o cabelo cor de areia cortado numa espécie de moicano que era, ao que me parecia, uma pobre tentativa de tentar passar a impressão de altura, já que ele mal chegava aos meus ombros. E ele não era apenas baixo; era tão magro que o uniforme militar ficava um pouco largo nos braços e pernas. Novo ele também não era. Chutava que tinha pelo menos trinta e cinco anos.

Sinceramente, ele parecia qualquer coisa, menos um Lobisomem, mas não deixei essa impressão cegar o que o cheiro de tinta e couro me fazia pensar: em alguém que transformava os inimigos mortos em sapatos.

Ele olhou ao redor com um ar ausente, os olhos parados e frios, focando-os em mim um segundo à mais do que nos outros de modo estranho, provocando um arrepio na minha coluna e um rosnado ameaçador da fera.

- Estão todos aqui... Bom... – ele murmurou, as mãos cruzadas nas costas. Sua voz tinha um tom grave que não combinava muito com sua aparência. – Façam uma fila à minha frente, em posição de sentido.

Resmungando interiormente, me juntei à fila que se formava; notei, de forma quase ausente, que era o último da fila e que a pessoa do meu lado esquerdo tentou ficar um passo mais longe que o ideal.

O homem ergueu uma sobrancelha para o espaço a mais, mas não falou nada, simplesmente começando a andar de um lado para o outro lentamente, como uma onça analisando uma caça presa.

E era exatamente como eu me sentia.

Parou de repente, deslizando novamente o dourado com gotas de azul sobre nós, e então se afastou, nos dando as costas; pude ver a interface espectral do anel dele se expandir pelo braço enquanto ele digitava algum comando, e então parte de uma das paredes se afastou, exibindo exoesqueletos de modelo padrão de corpo inteiro. O militar se apoiou na parede ao lado, os braços cruzados, olhando para nós intensamente; parecia misturar seriedade e raiva.

Fenris Fenrir - ElisyumOnde as histórias ganham vida. Descobre agora