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02 de Setembro de 1941
08:55

Assim que saímos do salão principal descobri que minha aula seria a mesma que a de Riddle, enquanto Malfoy seguia para o lado oposto do castelo.

— Então você gosta de runas? - Riddle zombou enquanto caminhava ao meu lado em direção a porta da sala de aula.

— Fico surpresa de que você goste.

Estudos das Runas Antigas era uma das cinco eletivas que deveríamos escolher. Dentre as cinco eu escolhi runas, aritmância e adivinhação. Afinal, eu não seria uma Sinclair se não seguisse o rumo de vidente assim como meus antepassados - em um certo momento de minha linhagem, uma vidente de uma família antiga e muito poderosa entrou na família e desde então alguns dos Sinclair tem a habilidade (assim como meu avô e, as vezes, eu). Achou mesmo que aquela relíquia de ver o futuro era pura ironia?

Riddle revirou os olhos com aquele sorrisinho de canto que ele muito usava em nossas conversas.

Assim que chegamos na aula sentamos juntos em uma mesa ao fundo e arrumamos nossas coisas em cima da bancada - exemplar, pena, pergaminho e tinteiro.

*

A aula não era nada como eu esperava. Ela era tediosa e não me ensinava nem metade do que aprendi quando tinha nove anos.

A professora tinha voz arrastada e aparência cansada, virada de costas pros alunos enquanto escrevia no quadro negro e falava ao mesmo tempo.

— Meu Merlin, me leva embora daqui - murmurei de olhos fechados, torcendo pro meu tataravô me ouvir e vir me salvar.

— Achei que gostasse - olhei pelo canto do olho para Riddle sentado ao meu lado. Ele tinha seu livro aberto em uma pagina que com certeza não era a que a professora estava passando, mas mesmo assim ele estudava aquilo. Sozinho.

— Eu gosto, mas gostava mais quando era meu pai me ensinando.

— O descendente de Merlin que te dava aula? - assenti.

Ele apenas ergueu as sobrancelhas, voltando a atenção para o que estava estudando em seu livro.

— Riddle? - murmurou em atendimento, lançando os olhos para mim - Posso te fazer uma pergunta?

— Já fez. - revirei os olhos e ele sorriu - Faça.

— O que você vê em mim? - suas sobrancelhas se ergueram levemente enquanto ele me encarava - Digo, você me tratou diferente. Quando pedi para sentar com você, você não me disse não e nem foi rude. Quando me sentei você puxou assunto sobre Munin, e bem. . . você com certeza não é gentil mas também não é ruim como aparentemente é com os outros.

Ele sorriu, um sorriso amplo e maldoso. Tínhamos sorte de estarmos na última mesa, assim ninguém poderia ver a forma como ele se aproximou de mim, me lançando um olhar intenso com aqueles perfeitos olhos tempestuosos.

— Você é esperta. - engoli em seco - Quer saber o que eu vi em você, lady? O que me fez querer te tratar diferente? - inconscientemente eu assenti - Potencial. E, principalmente, seu núcleo mágico - arregalei os olhos. Ninguém conseguia sentir o núcleo mágico de ninguém. - É, eu senti. Eu não sei como, mas quando te olhei na porta daquela cabine eu consegui sentir sua aura, Eva. Sabe essa escuridão que você praticava em sua casa? Essa magia negra que você carrega? Eu senti.

De repente, como um sino soando em minha mente eu senti algo obscuro me atravessar, uma coisa poderosa e muito, muito escura. Chegava a fazer o ar se partir o meio, chicoteando poder por todos os lados.

— Eu. . . eu posso sentir o seu. - minha respiração começou a falhar. Eu nunca tinha sentido a magia de ninguém antes. - A sua é. . . é escura e. . . - encontrei seus olhos por meio de todo aquele turbilhão de coisas, e eu não sei como, mas aquela profundidade azul me trouxe de volta a consciência. - você pratica a arte das trevas. - afirmei.

Ele não parecia surpreso, e sim contente.

— Assim como você.

Assenti. Não adiantava negar.

— Já sentiu isso antes? Digo, o núcleo. Já sentiu o núcleo de mais alguém antes? - ele negou.

— E pelo jeito você também não - concordei. Ele sorriu, estendendo sua mão e deslizando uma mecha de meu cabelo para longe de meu rosto - Eu senti que você era diferente. Diferente de todo o resto. Seu núcleo, sua aura, sua forma de agir. . . Meu poder reconheceu o seu. - seu sorriso. Seu sorriso era sonhador, feito para fazer qualquer um sonhar. - Podemos fazer loucuras juntos.

Eu não era nem um pouco manipulável. Nunca fui. Aquilo que ele estava dizendo não era questão de manipulação, era questão de que eu adorava a magia negra e estava disposta a me unir a alguém capaz de exercê-la junto de mim.

— Você não parece ser capaz de chegar ao meu nível - ele riu baixo, negando e tirando sua mão de mim.

— Está vendo só? - se arrumou na cadeira, endireitando a postura e olhando para frente - Minhas táticas não funcionam com você. Você não é "uma dessas piranhas que não sabe nem conjurar um feitiço sem dizer seu nome". Você com certeza tem um histórico de feitiços e parece saber mais do que os otários deste lugar. - Tom sorriu orgulhoso - Somos parecidos.

Parecidos. O que tínhamos de parecido?

*

Ao término da aula de Runas eu fui para a minha de Transfiguração junto com Malfoy e Riddle.

Voltei a me sentar ao lado de Riddle enquanto o loiro ia em direção a quem disse ser sua amiga.

— Druella Rosier. - Riddle murmurou - Eles são próximos até. Acho que deve ser a única garota que ele não dá em cima.

— É sua amiga também? - ele riu.

— Faça-me o favor, lady. Não tenho amigos. - me olhou divertido - Acho que Abrax é o único que chega próximo disso, já Druella? - negou com a cabeça - Ela é fraca. Odeio pessoas fracas.

Tínhamos isso em comum. Eu odiava pessoas fracas - e também não tinha amigos.

— E você, lady? Tem amigos? - zombou.

— Tenho tantos quanto você. - sorri de canto junto dele.

— O corvo conta? - eu ri. Ri alto. Ele conseguia ser engraçado quando queria.

— Idiota - Tom sorriu, se aproximando.

— Do que você me chamou? - ele sorria enquanto perguntava.

— De idiota. "Não ouviu da primeira vez?" - aquilo deveria ser familiar para seus ouvidos, eu tinha certeza.

Ergui as sobrancelhas quando ele riu, negando com a cabeça e se encostando na cadeira.

— Coragem, lady.

— Já disse que não tenho medo de você.

— Eu sei. E é isso que me fascina.

Continua. . .

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Dark Lady (1) - Tom Riddle (Republicada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora