Capítulo 1

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Jeferson

Veloz.

Que se movimenta ou desloca a grande velocidade; rápido, ligeiro.

Esse adjetivo podia ser atribuído a mim de diversas maneiras. Quem olhasse a minha vida, em retrospecto, poderia achar que tudo deu certo muito rápido para mim. Mas eu sabia que não havia sido assim. De fato, a velocidade havia me acompanhado quando a etapa B deu início. Sim, minha vida poderia ser dividia em duas etapas. Os onze primeiros anos da minha vida e os dezessete seguintes eram tão diferentes quanto água e vinho.

Fui veloz no colégio. Eu precisava correr atrás, literalmente, do prejuízo de onze anos de negligência educacional. Além de estudar de maneira acelerada, meu próprio corpo se tornou uma máquina ágil. Foi através da corrida que as coisas começaram a entrar em um eixo mais estável dentro da minha cabeça. Eu corria embaixo do sol, na pista de atletismo, até que minha mente se apagasse e tudo que restasse fosse o som dos meus passos se chocando contra o solo. Nos dias que eu treinava até a exaustão não tinha pesadelos.

Por fim, estratégia e velocidade eram a marca da minha empresa.

Durante anos mantive constante em meu pensamento que eu deveria ser o melhor em todos os aspectos, porque precisava mostrar a todos que um dia duvidaram ou zombaram que eu não corresponderia as suas expectativas baixas sobre o meu futuro. E assim me tornei o melhor aluno da turma por anos consecutivos, aprendi novos idiomas, conheci novas culturas e abracei todas as oportunidades. Dessa maneira, acabei me candidatando a Harvard Business School: a escola de negócios mais famosa do mundo. Ela era uma das escolas de pós-graduação da Universidade Harvard focada em administração de empresas e quando veio a carta de aprovação, embarquei para Boston com os sonhos na mala.

Na turma de jovens empreendedores encontrei mais que ferramentas de aprendizagem, encontrei um amigo. Peter era filho de mãe brasileira e pai americano, portanto, cidadão americano. Mas, ele fazia questão de falar que era brasileiro de coração, havia sido alfabetizado na língua portuguesa e identificava-se com nossos costumes, músicas e cultura. Assim como eu, gozava de uma boa situação de vida, mas queria ser mais que o herdeiro da família. Queria escrever a sua própria história de uma forma que quando as pessoas falassem dele associassem aos seus feitos pessoais e não como filho de pais ricos. Ele foi o meu mentor na língua inglesa, que eu já falava, mas faltava expandir o vocabulário.

E assim, como dois jovens sonhadores querendo traçar a sua própria carreira de sucesso, idealizamos em uma rede de fast-food o que seria o negócio das nossas vidas.

Recordo exatamente do dia que isso aconteceu.

— Meu tênis da Nike atrasará — ele disse com a boca cheia de nuggets, após consultar pela milésima vez o seu Iphone.

Ele havia comprado o último lançamento inspirado no Michael Jordan e desde que o pedido foi realizado, Peter acompanhava, ansioso, os passos da entrega.

— Tecnicamente não — pontuei, enquanto descartava os picles do hambúrguer.

Seis meses morando em Boston e eu ainda não aceitava a inclusão desse vegetal no meu lanche. Era um desrespeito com a carne, o bacon, os queijos e os molhos. Era um acréscimo desnecessário e eu sempre retirava quando a atendente errava o meu pedido e eu estava com fome demais para trocá-lo.

O CEO da Minha Vida tinha que ser Você (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora