Eu quero um refil! - Mario Persona

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EU QUERO UM REFIL! 

Mario Persona 

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Eu quero um refil!

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Dedicatória

Quero dedicar este oitavo livro ao meu filho Pedro, meu fiel escudeiro por muitos anos e com quem aprendi muito sobre comunicação. Enquanto meus dois outros filhos seguiram seus rumos depois de criados e emancipados, Pedro permaneceu ao meu lado, qual Sancho Pança e Quixote. Eu Quixote, ele Sancho e minha a Pança. Se Pedro não partiu à semelhança dos demais, não foi porque quis, mas por não ter opção. Pedro nasceu com paralisia cerebral, cego e incapaz de andar ou falar.

Quando nós o adotamos aos quatro anos de idade ele já era assim. Hoje Pedro é um adulto com mais de trinta anos, porém tem a aparência de uma criança de doze ou treze, uma idade mental de dois e coordenação motora de um bebê que engatinha. E Pedro engatinha.

A ideia de dedicar o livro a ele surgiu enquanto eu meditava sobre o título da primeira crônica que é também o deste livro, "Quero um refil!". Todos nós nos sentimos assim em um determinado momento da vida, quando o vigor falta, a audição sussurra e a vista embaça. Não sei de você, mas eu não vejo o ato de envelhecer, e as deficiências que surgem no processo, como algo digno de pena. Pedro, por exemplo, já veio com tudo isso de fábrica, e se teve algo em sua criação que evitamos ao máximo foi tratá-lo como um coitado. Quando vemos um deficiente a reação natural é compará-lo conosco, por nos acharmos eficientes. Será que somos? Não.

O belíssimo filme francês "Intocáveis" que acabo de ver me fez pensar o que teria levado um milionário tetraplégico a contratar um cuidador completamente inapto para cuidar de si. O rapaz vivia na marginalidade e na primeira e rápida visita que fez à mansão do milionário subtraiu dali um valioso objeto de arte. Mesmo sabendo disso, o homem decidiu que ele seria seu cuidador. Alguém que não cursou outra escola que não fosse a das ruas.

O filme é baseado na história real do milionário francês Philippe Pozzo di Borgo e de seu rude cuidador, o franco-argelino Yasmin Abdel Sellou. Depois de pesquisar, entendi o motivo dessa estranha simbiose que durou mais de dez anos. Philippe Pozzo di Borgo teria partido do seguinte raciocínio: E se dois deficientes cuidassem um do outro? Ele, deficiente físico, e o outro deficiente social, uma dupla perfeita. Philippe considerava a si e seu cuidador dois marginalizados pela sociedade que procuravam se apoiar mutuamente. Um marginal por ser deficiente físico e o outro marginal por sua condição socioeconômica.

Além disso, Philippe encontrou em Abdel alguém que não tinha um pingo de dó de sua condição, que não vestia uma máscara de piedade quando diante de um deficiente. Ao contrário, fazia piada e levava qualquer desgraça na esportiva como fazia com a própria vida. Ao ser procurado pelos diretores, depois de ter rejeitado outros que queriam transformar sua autobiografia em filme, Philippe aprovou o projeto: "Ok, vou confiar em vocês porque vocês vão fazer uma comédia. Eu quero que as pessoas riam, não que chorem de minha condição".

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