CAPÍTULO 1

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VALENTINA

Era um dia atípico, e a presença marcante das flores ainda estava em meu pensamento. Sempre fui uma admiradora da natureza, não só pelo fato de ser algo que nos fora concedido, mas também porque sua beleza é espontânea, limpa e instigante.


Nunca fui de reclamar, mas hoje ao acordar senti que era complicado algo me entreter. Uma simples conversa seria difícil de ser digerida; é complicado descrever o que se passa. Sinto que há um vazio em mim que aumenta a cada dia que passa e, sinceramente, não sei o que posso fazer para preencher esse espaço em meu peito.


Meu cotidiano é normal. Tento me desvencilhar de distrações que possam modificar minha rotina. Peco por meu perfeccionismo e pontualidade na maior parte do tempo – acaba que os dias são sempre iguais e faço as mesmas coisas.


Atualmente tenho 25 anos de idade, terminei a faculdade aos 23. Moro em Deverland, que fica no estado de Nevada, nos Estados Unidos. A formação em Pedagogia obtida no ano retrasado na faculdade da cidade de Deverland me fez sentir realizada em um certo período, mas ainda acho que falta algo para dizer que estou feliz e completa, de uma forma especial e útil.


Sempre gostei de ler e escrever, principalmente da segunda, que se tornou um dos meus hobbies. Escrevo cartas para amigas, nelas redijo o que penso e sinto; assim me sinto útil de certa forma. Tento frequentemente ajudar meus amigos, os quais sabem que podem contar comigo.


Durante minha graduação morava com minha família. Éramos somente três pessoas: eu, meu pai Fernando, que era veterinário e atualmente está aposentado, e minha mãe Marcelle, que sempre foi dona de casa. Tinha vontade de ter um irmão, mas, devido a complicações no meu parto, meus pais acharam melhor não terem outro filho. Minha mãe sofreu muito por dois motivos: ela quase morreu em minha gestação, e sempre quis ter um casal de filhos. O médico dela disse a eles que era muito arriscada a gravidez, pois o bebê poderia morrer ou até mesmo ela, quando desse à luz.


Hoje a 200 km de minha família, toda semana dou um jeito de ligar para eles e perguntar como estão. Meu pai sempre foi de ficar no canto dele, não conversa tanto igual à minha mãe. No telefone ficamos pelo menos 30 minutos, minha mãe é muito carente e, às vezes, meu pai é bastante reservado. Ela já me ligou várias vezes chorando e dizendo que sente minha falta. Fico triste, pois onde cresci não tem tantas oportunidades na área que pretendo seguir.


Sou pedagoga, leciono para o ensino fundamental. Durante o curso de Pedagogia fiz várias amizades, algumas especiais, como a de Lilian. Tínhamos a mesma idade: eu e ela fomos muito unidas, sempre fazíamos trabalho juntas, saíamos, conversamos, fazíamos coisas de amigas. Lilian era meu oposto em relação à semelhança física: ela era uma menina alta, com seus 1,70 m, morena, rosto redondo, olhar penetrante, genes de um pai africano e uma mãe americana; já eu sou baixa, 1,60 m de altura, olhos azuis-claros e cabelos castanhos bem claros, rosto fino, e não peso mais que 55 kg.


Quando nos formamos, eu e Lilian procuramos empregos como pedagogas sempre nos mesmos locais. Conseguimos as duas vagas que estavam sendo oferecidas na escola Jardim do Paraíso, e desde então nos falamos frequentemente todos os dias, até em finais de semana. Ela sempre foi uma pessoa desinibida, sentávamos perto uma da outra, e eu não tinha muitos amigos na época. Então, acabei me aproximando dela e, com o tempo, nos tornamos grandes amigas.

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