VII
Uma fezinha até posso fazer, no grupo, dezena, centena e milhar. Pelos sete lados eu vou te cercar[...]
Arlindo Cruz, O Meu Lugar
— Alô?
— Mermão, os caras da polícia tão me perseguindo!
— Lindo?
— É, porra!
— Tu tá onde?
— Em Nilópolis! Tá foda! Abre essa porra do portão que eu vou me esconder aí!
— Aqui?! Tu tá maluco?!
— Porra, tu não é o cara?! A última coca-cola do deserto?! A bala que matou Kennedy?! Abre essa merda!
Depois de segundos de silêncio...
— Tá. Vem pra cá. Porra, como tu faz merda, Lindo...
Lindo dirigia o mais rápido que podia pelas ruas estreitas de Nilópolis. Sempre com a mão na buzina, evitando acidentes com as pessoas que normalmente andavam por ali como se fossem calçadas e transformavam aquela região em um formigueiro humano. O que ele não esperava era a qualidade de condução de Jesus, mesmo ao volante de um carro popular. O pagodeiro desviava dos obstáculos e outros veículos na esperança de que o policial se esborrachasse com um deles, mas não era isso que se via.
Jesus mantinha a perícia em alta, fazendo manobras inimagináveis ao volante. Jorge, preso ao banco, mal conseguia falar e quando pronunciava algo, eram palavras de incentivo:
— Ô filho da puta, eu tenho muito pra viver ainda, vai devagar!
Ao ver o desespero de Jorge, Jesus ria. E não desgrudava de Lindo, que agora entrava na avenida mais movimentada de Nilópolis, rumo ao pedaço mais elegante da cidade. Descendo a ladeira, virando à esquerda, o local parecia familiar aos policiais:
— Eita, Jesus, ele tá indo pra casa do finado Marcilão?!
— Ih, rapaz, parece que sim. Jorginho, liga pro Chico, agora! Avisa pra ele onde a gente tá indo.
— Beleza!
* * *
Luzia tinha acabado de chegar à casa de Morena. Lourenço ainda estava com dores, mas já conseguia articular as palavras com desenvoltura. Chico chegou perto da delegada e puxou a conversa:
— Doutora?
— Chico, não precisa me chamar de Doutora.
— Ok. Desculpa. Luzia. Então, Jorge ligou. Ele e Jesus ainda estão na cola do Lindo. E o pagodeiro está indo pra casa de Marcilão.
— Hum...
— O que fazemos, Luzia?
— Vamos pra lá, agora!
— Ok. E Lourenço?
Luzia se virou para o policial ferido e perguntou:
— Lourenço, você está em condições?
— Claro que tô. E você acha que vou perder essa?
— Bom, já temos nossa resposta...
Chico ainda lembrou:
— E Morena, o que fazemos com ela?
— Vamos leva-la. Não temos tempo a perder e ela ainda pode ser útil.
ESTÁ A LER
Dezena, Centena e Milhar
RomanceAnos 2000, Baixada Fluminense. Policiais se deparam com um crime envolvendo um famoso contraventor, ocorrido em pleno ensaio de uma das escolas de samba mais famosas do Rio de Janeiro. "Dezena, Centena e Milhar" mostra como a equipe de "Amém" é form...